terça-feira, 27 de outubro de 2015

POR UM FIO - SEGURANÇA DO TRABALHO NO SETOR ELÉTRICO 1º Parte

Os riscos à segurança e saúde dos trabalhadores no setor de energia elétrica são, via de regra elevados, podendo levar a lesões de grande gravidade e são específicos a cada tipo de atividade. Contudo, o maior risco à segurança e saúde dos trabalhadores é o de origem elétrica.

A eletricidade constitui-se um agente de alto potencial de risco ao homem. Mesmo em baixas tensões ela representa perigo à integridade física e saúde do trabalhador.

Sua ação mais nociva é a ocorrência do choque elétrico com consequências diretas e indiretas (quedas, batidas, queimaduras indiretas e outras). Também apresenta risco devido à possibilidade de ocorrências de curtos-circuitos ou mau funcionamento do sistema elétrico originando grandes incêndios e explosões.

É importante lembrar que o fato da linha estar seccionada não elimina o risco elétrico, tampouco pode-se prescindir das medidas de controle coletivas e individuais necessárias, já que a energização acidental pode ocorrer devido a erros de manobra, contato acidental com outros circuitos energizados, tensões induzidas por linhas adjacentes ou que cruzam a rede, descargas atmosféricas mesmo que distantes dos locais de trabalho, fontes de alimentação de terceiros.

RISCO

Capacidade de uma grandeza com potencial para causar lesões ou danos à saúde e a segurança das pessoas.

● Riscos de Origem Elétrica
● Riscos de Queda
● Riscos no Transporte e com Equipamentos
● Riscos de Ataques de Insetos
● Riscos de Ataque de Animais Peçonhentos/domésticos
● Riscos Ocupacionais
● Riscos Ergonômicos

RISCOS DE ORIGEM ELÉTRICA

CHOQUE ELÉTRICO

O choque elétrico é um estímulo rápido no corpo humano, ocasionado pela passagem da corrente elétrica. Essa corrente circulará pelo corpo onde ele tornar-se parte do circuito elétrico, onde há uma diferença de potencial suficiente para vencer a resistência elétrica oferecida pelo corpo.

CAMPO ELÉTRICO

Campo elétrico é a região ao redor de uma carga (positiva ou negativa), na qual, ao se colocar um corpo eletrizado, este fica sujeito a uma força elétrica

CAMPO ELETROMAGNÉTICO

É uma região sobre a qual é exercida uma força produzida por uma corrente elétrica

RISCO DE QUEDA

As quedas constituem uma das principais causas de acidentes no setor elétrico, ocorrem em consequência de choques elétricos, de utilização inadequada de equipamentos de elevação (escadas, cestas, plataformas), falta ou uso inadequado de EPI, falta de treinamento dos trabalhadores, falta de delimitação e de sinalização do canteiro do serviço e ataque de insetos.

RISCOS NO TRANSPORTE E COM EQUIPAMENTOS

Neste item abordaremos riscos de acidentes envolvendo transporte de trabalhadores e o deslocamento com veículos de serviço, bem como a utilização de equipamentos.

● Veículos a caminho dos locais de trabalho em campo

É comum o deslocamento diário dos trabalhadores até os efetivos pontos de prestação de serviços. Esses deslocamentos expõem os trabalhadores aos riscos característicos das vias de transporte.

● Veículos e equipamentos para elevação de cargas e cestas aéreas.

Nos serviços de construção e manutenção em linhas e redes elétricas nos quais são utilizados cestas aéreas e plataformas, além de elevação de cargas (equipamentos, postes) é necessária a aproximação dos veículos junto às estruturas (postes, torres) e do guindauto (Grua) junto das linhas ou cabos. Nestas operações podem acontecer acidentes graves, exigindo cuidados especiais que vão desde a manutenção preventiva e corretiva do equipamento, o correto posicionamento do veículo, adequado travamento e fixação, até a operação precisa do equipamento.

RISCOS DE ATAQUES DE INSETOS

Na execução de serviços em torres, postes, subestações, leitura de medidores, serviços de poda de árvores e outros pode ocorrer ataques de insetos, tais como abelhas e formigas.

RISCOS DE ATAQUES DE ANIMAIS PEÇONHENTOS/DOMÉSTICOS

Ocorre sobretudo nas atividades externas de construção, supervisão e manutenção em redes elétricas.
O empregado deve atentar à possibilidade de picadas de animais peçonhentos como por exemplo, cobras venenosas, aranhas, escorpiões e mordidas de cães.

RISCOS ERGONÔMICOS

Os riscos ergonômicos são significativos nas atividades do setor elétrico relacionados aos fatores:

Biomecânicos: posturas inadequadas de trabalho provocadas pela exigência de ângulos e posições inadequadas dos membros superiores e inferiores para realização das tarefas, principalmente em altura, sobre postes e apoios inadequados, levando a intensas solicitações musculares, levantamento e transporte de carga, etc.

Organizacionais: pressão psicológica para atendimento a emergências ou a situações com períodos de tempo rigidamente estabelecidos, realização rotineira de horas extras, trabalho por produção, pressões da população com falta do fornecimento de energia elétrica.

Psicossociais: elevada exigência cognitiva necessária ao exercício das atividades associada à constante convivência com o risco de vida devido à presença do risco elétrico e também do risco de queda (neste caso sobretudo para atividades em linhas de transmissão, executadas em grandes alturas).

Ambientais: conforme teoria, risco ambiental compreende os físicos, químicos e biológicos; esta terminologia fica inadequada, deve-se separar os riscos provenientes de causas naturais (raios, chuva, terremotos, ciclones, ventanias, inundações,
etc.).

RISCOS OCUPACIONAIS

Consideram-se riscos ocupacionais, os agentes existentes nos ambientes de trabalho, capazes de causar danos à saúde do empregado.

Ruído
Presente em vários locais tais como, usinas de geração de energia elétrica, devido ao movimento de turbinas e geradores, subestações, redes de distribuição, necessitando de laudo técnico específico para sua caracterização.

Radiação solar

Os trabalhos em instalações elétricas ou serviços com eletricidade quando realizados em áreas abertas podem também expor os trabalhadores à radiação solar. Como consequências podem ocorrer queimaduras, lesões nos olhos e até câncer de pele, provocadas pela radiação solar.

Calor

Presente nas atividades desempenhadas em espaços confinados, como por exemplo: subestações, câmaras subterrâneas, usinas (devido deficiência de circulação de ar e temperaturas elevadas).

continua...

Fonte de pesquisa:

http://www.eletrobrasrondonia.com/Manuais%20e%20Legislacao/DO-OP-01-P-035%20TrabalhosEmAltura.pdf
http://www.brasilescola.com/fisica/campo-eletrico.htm
Manual NR 10 /CPN SP.
Normas Regulamentadoras Atualizadas/2015.

domingo, 4 de outubro de 2015

HISTÓRIA, EVOLUÇÃO E SEGURANÇA DO SETOR ELÉTRICO

Hoje é impossível falar em crescimento econômico, sem falar em energia, dentre elas a eletricidade, que desde sua descoberta vem exigindo cada vez mais investimentos em segurança no emprego de seus trabalhadores. No início da atividade elétrica até os dias atuais, houve grande evolução na segurança para os trabalhadores, entretanto, temos grandes taxas de acidentes envolvendo os empregados eletricistas.

Atualmente existem regras e normas de segurança no mundo e no Brasil, dentre elas destacamos a CLT (consolidação das leis trabalhistas) e a NR-10 (norma regulamentadora) dentre outras normas da ABNT (associação brasileira de normas técnicas).

A eletricidade, que é considerado o combustível vital da era moderna, tem como característica principal e temida a de sempre procurar o caminho do chão (terra), fazendo dela uma energia tão especial quanto letal. Os eletricistas de maneira geral não costumam ter uma segunda chance diante de erros, desta forma, o avanço da tecnologia, a criação e a modernização de ferramentas, treinamentos exaustivos e a contínua observância da norma de Segurança são peças fundamentais na prevenção de acidentes e, mortes no ambiente de trabalho.

Nos primeiros anos do século XX a demanda por eletricidade explodiu, e a indústria apoiando-se nela criou novos aparelhos elétricos, que surgiam diariamente.

O sindicato, irmandade internacional de eletricistas, lançavam programas de aprendizado. A habilidade básica que todos deviam dominar era subir em um poste de madeira, e cada eletricista decidia o quanto deveria arriscar em suas atividades. A ferramenta que se utilizava para escalada ao poste era uma perneira amarrada às pernas, e suas pontas penetravam na madeira dando o apoio, se fosse usada corretamente não se escorregava, havia também um cinto equipado com uma correia que se passava pelo poste e prendia nas extremidades.
Utilizava-se de um martelo para verificar o estado do poste antes da subida no mesmo. Pois era preciso deixar as duas mãos livres e confiar no cinto de segurança.

Em 1914 temos o primeiro registro do uso de uma vara chamada hotstick (vara quente), que possuía várias ferramentas presas e intercambiáveis na sua ponta, era feita de madeira e muito pesada. Com ela havia a possibilidade de fazer vários serviços sem precisar pôr as mãos nos condutores.

Era muito arriscado, pois os trabalhadores faziam suas próprias ferramentas, como anéis de cobre, entre outras, por não haver confiabilidade e testes destas ferramentas, muito morriam com a falha ou quebra das mesmas.

A maior inimiga da utilização do hotstick era a umidade, a madeira absorvia a umidade e se tornava um risco para o trabalhador, era preciso então mantê-la seca sempre, pois a corrente ao circular por sua superfície úmida provocava acidentes graves e fatais.

Nos anos 50, os hotsticks de madeira foram substituídos por hotsticks de tubos de vidro, mais leve e de material isolante, até hoje ele é bastante utilizado como um auxiliar na manutenção em linhas.

As luvas de borrachas foram introduzidas somente em 1915. Sua espessura da borracha dificultava a articulação dos dedos causando problemas nas articulações. Em 1933 a fábrica White Rubber recebeu os desenhos de luvas específicas para este trabalho, que possuíam curvas tais como as mãos, eram mais confortáveis para usar e trabalhar, outra luva de couro recobria a luva de borracha para evitar cortes, hoje à utilização de luvas é vital no manejo de cabos com até 35.000 v e está bem difundido seu uso em classes de tensões.

Após a segunda guerra mundial a indústria de energia iniciou uma campanha de segurança, uma pesquisa revelou que o contato involuntário da cabeça do técnico com o cabo era causa de 8% dos casos fatais, na época se usava um chapéu, e alguns eram feitos de couro em vez de feltro, que em contato com o cabo, protegiam de choques, pois bloqueava o contato direto. Somente nos anos 50 o capacete substituiu o chapéu, e de forma obrigatória, nesta época ele era conhecido como o “balde de miolo”, nome dado devido o material ser muito duro e sua aparência com o conhecido balde.

No final da década de 50 surgiu uma ferramenta tão eficiente quanto revolucionária, o caminhão elevador, com ele o trabalho ganhou eficiência, e o técnico pôde trabalhar e desempenhar seu trabalho com mais segurança, esta ferramenta também possibilitou o aumento da produção e da segurança, pois os caminhões elevavam as caçambas com os técnicos a uma distância segura que possibilitava boa visão e manutenção das linhas e estruturas com tempo mais reduzido, e com menores índices de acidentes.

Os novos caminhões levaram a uma técnica espantosa que permitia o trabalho nas linhas vivas sem a utilização de luvas, utilizando-se roupas isoladoras e colocando o caminhão e o técnico isolados no mesmo potencial da linha.

Trabalhar em linhas vivas de 500.000 v de tensão cria um efeito desconfortável devido à energia de indução, o que impede inclusive que pássaros possam pousar nestes mesmos cabos de energia (500KV), a fim de evitar este desconforto criou-se uma fina roupa de trama de aço. A roupa obriga a indução a envolver os homens em vez de passar através deles, assim qualquer tarefa direta nestas linhas podia ser realizada, como trocar os separadores de linhas.
No final dos anos 50 utilizava-se de helicópteros para a instalação de torres de transmissão em áreas remotas e selvagens, mais tarde nos anos 80, helicópteros e técnicos sem luvas se uniram para serviços de manutenção em linhas vivas de 500KV, para isso homens e helicópteros são energizados para equalizar a voltagem e trabalharem com segurança em relação à eletricidade, pois não há criação de um atalho para a terra nestas condições. O trabalho com helicópteros permite uma produção ainda maior que o sistema tradicional em cabos de alta tensão, por exemplo, homens com caminhões elevadores e hotsticks substituem oito separadores por dia, no mesmo espaço de tempo uma boa equipe com helicópteros e técnicos substitui até duzentos destes.

Em todas as áreas da eletricidade, foi verificada a implantação de inúmeros EPI’S e EPC’s, como uniformes antichama, capacetes com proteção, sistemas de aterramentos para manutenção e equipamentos de ancoragem e resgate, que surgiram e evoluíram consideravelmente. Além das próprias ferramentas que foram fabricadas com materiais isolantes, e com a evolução da ciência, novos materiais com maiores poderes de isolação elétrica foram descobertos, e empregados nas ferramentas, aumentando a segurança para seus usuários, outra ferramenta muito importante inventada para trabalho em reparos de linhas desligadas, foi o detector de tensão, que traz segurança para o eletricista em relação ao estado da linha, hoje o detector figura como ferramenta essencial para a manutenção de linhas de distribuição e transmissão, quando a exigência é que seja realizada manutenção com a linha desligada.

A evolução tecnológica vem contribuindo com os profissionais durante os anos, os aperfeiçoamentos constantes das ferramentas e da legislação sobre segurança no trabalho, também contribuíram para que a triste estatística de um óbito para cada dois trabalhadores em eletricidade fosse mudada, mais não se pode perder a concentração e baixar a guarda em relação a esta força letal chamada eletricidade, inúmeros acidentes estudados durante os treinamentos de novas equipes de trabalhos, apontam para a não observação dos passos de segurança e a falta de utilização dos EPIs e EPC’s obrigatórios como causa dos acidentes.

É preciso então valorizar a importante iniciativa dos primeiros trabalhadores em criar o primeiro sindicato (irmandade internacional dos eletricistas) que deram os passos iniciais para que hoje os eletricistas de forma geral possam desempenhar suas funções com mais segurança.

Lembramos que todo trabalho no qual a eletricidade está presente, as normas de segurança são rígidas e vem sendo atualizadas, leis foram criadas e proporcionaram mudanças, tais como o treinamento obrigatório para os eletricistas, revisão bienal dos treinamentos em segurança (NR-10). Mesmo assim existe a dependência do avanço cientifico para que novas ferramentas e equipamentos sejam inventados e disponibilizados, pois atualmente o número de acidentes envolvendo trabalhadores em eletricidade é considerado alto, e existe campo para diminuir estas estatísticas.

Jefferson Fernandes Pereira de Sales

Adaptado do original, “Trabalho de origem e evolução da segurança na atividade de eletricista” de HUMBERTO RODRIGUES MACEDO.

NOTA: A manutenção nas linhas com helicópteros é muito cara e exige treinamento de dois anos para alcançar o domínio desta técnica. O serviço é seguro sobre condições indicadas, contudo não existem ainda regras caso o técnico perca a concentração.