domingo, 4 de outubro de 2015

HISTÓRIA, EVOLUÇÃO E SEGURANÇA DO SETOR ELÉTRICO

Hoje é impossível falar em crescimento econômico, sem falar em energia, dentre elas a eletricidade, que desde sua descoberta vem exigindo cada vez mais investimentos em segurança no emprego de seus trabalhadores. No início da atividade elétrica até os dias atuais, houve grande evolução na segurança para os trabalhadores, entretanto, temos grandes taxas de acidentes envolvendo os empregados eletricistas.

Atualmente existem regras e normas de segurança no mundo e no Brasil, dentre elas destacamos a CLT (consolidação das leis trabalhistas) e a NR-10 (norma regulamentadora) dentre outras normas da ABNT (associação brasileira de normas técnicas).

A eletricidade, que é considerado o combustível vital da era moderna, tem como característica principal e temida a de sempre procurar o caminho do chão (terra), fazendo dela uma energia tão especial quanto letal. Os eletricistas de maneira geral não costumam ter uma segunda chance diante de erros, desta forma, o avanço da tecnologia, a criação e a modernização de ferramentas, treinamentos exaustivos e a contínua observância da norma de Segurança são peças fundamentais na prevenção de acidentes e, mortes no ambiente de trabalho.

Nos primeiros anos do século XX a demanda por eletricidade explodiu, e a indústria apoiando-se nela criou novos aparelhos elétricos, que surgiam diariamente.

O sindicato, irmandade internacional de eletricistas, lançavam programas de aprendizado. A habilidade básica que todos deviam dominar era subir em um poste de madeira, e cada eletricista decidia o quanto deveria arriscar em suas atividades. A ferramenta que se utilizava para escalada ao poste era uma perneira amarrada às pernas, e suas pontas penetravam na madeira dando o apoio, se fosse usada corretamente não se escorregava, havia também um cinto equipado com uma correia que se passava pelo poste e prendia nas extremidades.
Utilizava-se de um martelo para verificar o estado do poste antes da subida no mesmo. Pois era preciso deixar as duas mãos livres e confiar no cinto de segurança.

Em 1914 temos o primeiro registro do uso de uma vara chamada hotstick (vara quente), que possuía várias ferramentas presas e intercambiáveis na sua ponta, era feita de madeira e muito pesada. Com ela havia a possibilidade de fazer vários serviços sem precisar pôr as mãos nos condutores.

Era muito arriscado, pois os trabalhadores faziam suas próprias ferramentas, como anéis de cobre, entre outras, por não haver confiabilidade e testes destas ferramentas, muito morriam com a falha ou quebra das mesmas.

A maior inimiga da utilização do hotstick era a umidade, a madeira absorvia a umidade e se tornava um risco para o trabalhador, era preciso então mantê-la seca sempre, pois a corrente ao circular por sua superfície úmida provocava acidentes graves e fatais.

Nos anos 50, os hotsticks de madeira foram substituídos por hotsticks de tubos de vidro, mais leve e de material isolante, até hoje ele é bastante utilizado como um auxiliar na manutenção em linhas.

As luvas de borrachas foram introduzidas somente em 1915. Sua espessura da borracha dificultava a articulação dos dedos causando problemas nas articulações. Em 1933 a fábrica White Rubber recebeu os desenhos de luvas específicas para este trabalho, que possuíam curvas tais como as mãos, eram mais confortáveis para usar e trabalhar, outra luva de couro recobria a luva de borracha para evitar cortes, hoje à utilização de luvas é vital no manejo de cabos com até 35.000 v e está bem difundido seu uso em classes de tensões.

Após a segunda guerra mundial a indústria de energia iniciou uma campanha de segurança, uma pesquisa revelou que o contato involuntário da cabeça do técnico com o cabo era causa de 8% dos casos fatais, na época se usava um chapéu, e alguns eram feitos de couro em vez de feltro, que em contato com o cabo, protegiam de choques, pois bloqueava o contato direto. Somente nos anos 50 o capacete substituiu o chapéu, e de forma obrigatória, nesta época ele era conhecido como o “balde de miolo”, nome dado devido o material ser muito duro e sua aparência com o conhecido balde.

No final da década de 50 surgiu uma ferramenta tão eficiente quanto revolucionária, o caminhão elevador, com ele o trabalho ganhou eficiência, e o técnico pôde trabalhar e desempenhar seu trabalho com mais segurança, esta ferramenta também possibilitou o aumento da produção e da segurança, pois os caminhões elevavam as caçambas com os técnicos a uma distância segura que possibilitava boa visão e manutenção das linhas e estruturas com tempo mais reduzido, e com menores índices de acidentes.

Os novos caminhões levaram a uma técnica espantosa que permitia o trabalho nas linhas vivas sem a utilização de luvas, utilizando-se roupas isoladoras e colocando o caminhão e o técnico isolados no mesmo potencial da linha.

Trabalhar em linhas vivas de 500.000 v de tensão cria um efeito desconfortável devido à energia de indução, o que impede inclusive que pássaros possam pousar nestes mesmos cabos de energia (500KV), a fim de evitar este desconforto criou-se uma fina roupa de trama de aço. A roupa obriga a indução a envolver os homens em vez de passar através deles, assim qualquer tarefa direta nestas linhas podia ser realizada, como trocar os separadores de linhas.
No final dos anos 50 utilizava-se de helicópteros para a instalação de torres de transmissão em áreas remotas e selvagens, mais tarde nos anos 80, helicópteros e técnicos sem luvas se uniram para serviços de manutenção em linhas vivas de 500KV, para isso homens e helicópteros são energizados para equalizar a voltagem e trabalharem com segurança em relação à eletricidade, pois não há criação de um atalho para a terra nestas condições. O trabalho com helicópteros permite uma produção ainda maior que o sistema tradicional em cabos de alta tensão, por exemplo, homens com caminhões elevadores e hotsticks substituem oito separadores por dia, no mesmo espaço de tempo uma boa equipe com helicópteros e técnicos substitui até duzentos destes.

Em todas as áreas da eletricidade, foi verificada a implantação de inúmeros EPI’S e EPC’s, como uniformes antichama, capacetes com proteção, sistemas de aterramentos para manutenção e equipamentos de ancoragem e resgate, que surgiram e evoluíram consideravelmente. Além das próprias ferramentas que foram fabricadas com materiais isolantes, e com a evolução da ciência, novos materiais com maiores poderes de isolação elétrica foram descobertos, e empregados nas ferramentas, aumentando a segurança para seus usuários, outra ferramenta muito importante inventada para trabalho em reparos de linhas desligadas, foi o detector de tensão, que traz segurança para o eletricista em relação ao estado da linha, hoje o detector figura como ferramenta essencial para a manutenção de linhas de distribuição e transmissão, quando a exigência é que seja realizada manutenção com a linha desligada.

A evolução tecnológica vem contribuindo com os profissionais durante os anos, os aperfeiçoamentos constantes das ferramentas e da legislação sobre segurança no trabalho, também contribuíram para que a triste estatística de um óbito para cada dois trabalhadores em eletricidade fosse mudada, mais não se pode perder a concentração e baixar a guarda em relação a esta força letal chamada eletricidade, inúmeros acidentes estudados durante os treinamentos de novas equipes de trabalhos, apontam para a não observação dos passos de segurança e a falta de utilização dos EPIs e EPC’s obrigatórios como causa dos acidentes.

É preciso então valorizar a importante iniciativa dos primeiros trabalhadores em criar o primeiro sindicato (irmandade internacional dos eletricistas) que deram os passos iniciais para que hoje os eletricistas de forma geral possam desempenhar suas funções com mais segurança.

Lembramos que todo trabalho no qual a eletricidade está presente, as normas de segurança são rígidas e vem sendo atualizadas, leis foram criadas e proporcionaram mudanças, tais como o treinamento obrigatório para os eletricistas, revisão bienal dos treinamentos em segurança (NR-10). Mesmo assim existe a dependência do avanço cientifico para que novas ferramentas e equipamentos sejam inventados e disponibilizados, pois atualmente o número de acidentes envolvendo trabalhadores em eletricidade é considerado alto, e existe campo para diminuir estas estatísticas.

Jefferson Fernandes Pereira de Sales

Adaptado do original, “Trabalho de origem e evolução da segurança na atividade de eletricista” de HUMBERTO RODRIGUES MACEDO.

NOTA: A manutenção nas linhas com helicópteros é muito cara e exige treinamento de dois anos para alcançar o domínio desta técnica. O serviço é seguro sobre condições indicadas, contudo não existem ainda regras caso o técnico perca a concentração.


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